quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sem limite

Texto de Jorge Forbes fala sobre a sociedade atual e a ausência de limites que foram deslocados pela evolução científica. 
Sem Limites
Um dia talvez, quando os historiadores se debruçarem sobre os últimos vinte anos do século vinte, notarão que uma das suas mais claras características foi o estabelecimento do “sem limite”. Sem limite de distância, com a revolução da Internet; sem limite da cura, com novos medicamentos, clonagens, partos fabricados; sem limite da segurança, com carros blindados e guardas armados; sem limite da beleza, com plásticas estéticas e dermatologia cosmética. E esses historiadores constatarão um paradoxo: ao contrário do que o “bom senso” poderia esperar, não acompanhou esse formidável progresso uma taxa equivalente de felicidade e de bem estar, ao contrário, o que se viu foi o crescimento dos quadros depressivos e das toxicofilias. Surpresa! O que aconteceu? Em um primeiro momento pensou-se que os novos métodos não traziam a almejada felicidade por estarem sendo sub-utilizados e, em conseqüência, tocou-se a multiplicá-los. Se um guarda é pouco, contratam-se dois, ou três, ao mesmo tempo que transforma-se sua casa em casamata, nada ficando esta a dever às celas de um presídio de segurança máxima. Conclusão: é a vítima em potencial, em seu afã de proteção, que acaba na cadeia, e, pior, por auto-aprisionamento.

Raciocínio semelhante pode ser empregado para os outros novos remédios tecnológicos. Tomemos a beleza. Descobriu-se que o “botox” tem propriedades paralisantes da pele que propiciam o desaparecimento das rugas, porta-vozes da velhice. O local onde é mais aplicado é na testa, fazendo-a ficar “lisinha” (sic), é o efeito pretendido. Ocorre que, ao ser aplicado no meio da testa, muda a expressão facial da pessoa, pois, as laterais estando livres, as sobrancelhas se arqueiam só nas pontas externas reconstituindo, em anima-nobili (o nome acadêmico da espécie humana), os mesmos traços das terríveis bruxas das histórias em quadrinhos. Belas, sem dúvida, mas bruxas. Aí, para retirar o efeito bruxa, só aplicando um pouquinho mais de “botox” nas laterais. Pronto, agora não é mais bruxa, é só uma “Barbie” aparvalhada, com cara de vazio. Finalmente, é o prêmio de consolação, basta aguardar alguns meses para o “botox” ser reabsorvido, voltando tudo à velha forma; no caso do “botox” ainda dá para remediar.

Onde está o limite? Deslocadas pelas evoluções científicas de seu terreno chamado “natural”, as pessoas sofrem hoje de uma verdadeira síndrome do “sem limite”. Será que a única solução é o limite da dor, como quando uma pessoa se vê encarcerada em sua própria casa (ainda está na memória de todos a história do banqueiro que morreu queimado em seu banheiro super-protegido), ou de quando seu rosto perdeu a vida? Ou, ainda, seria uma solução marcar o próprio corpo na tentativa de fixar um limite? Da auto-mutilação às tatuagens e aos piercings a fronteira é tênue.

O que esperamos é que a crítica esclarecida faça um trabalho de separação entre os formidáveis avanços científicos dessas últimas décadas e a ideologia a eles parasitária do tudo-pode, tudo-tem-jeito. Caberá a médicos e pacientes e, de uma forma mais ampla, a fornecedores e usuários, responsabilizar-se pelo estabelecimento de novos limites. Deverá se privilegiar aquilo que se quer e não o que se pode.

A época da globalização que estamos entrando exige de cada um o exercício de seu próprio limite, que hoje em dia vem menos da “natureza” que da própria escolha responsável. É aquilo que eu quero que me restringe e não o que o outro, o tempo, por exemplo, me impede de conseguir. Ah, mas não é nada fácil o exercício da expressão do querer. A pergunta: “Você quer o que você deseja?” é uma das mais difíceis de responder, tanto por mulheres, quanto por homens. Mas isso já é assunto para um próximo artigo, porque também aqui há limite.

terça-feira, 16 de julho de 2013


Novas nomeações na atualidade

As novas nomeações e seus efeitos nos corpos
Nieves Soria Dafunchio


A psicanálise ensina que eu, corpo e realidade são construções convergentes, impossíveis sem a mediação do simbólico. A pergunta que me surge, tendo em vista nosso próximo Encontro, é sobre os efeitos do declínio da nomeação paterna e da emergência de novas nomeações sobre os corpos

Se bem encontramos antecipações desde o começo do ensino de Lacan, é, sobretudo, no final do mesmo ensino que nomeação e enlaçamento se tornam conceitos indissolúveis, equivalentes. Lacan estabelece a nomeação edípica como um enlaçamento borromeano entre os três registros, por um quarto anel, de modo que nenhum registro fica diretamente implicado em relação a outro. Quando esse é o tipo de enlaçamento, o corpo é uma construção que se sustenta em uma função eminentemente simbólica que faz mediação entre o corpo imaginário e o corpo real.
Nessa mediação há lugar para o ato da palavra, coração da intervenção analítica, já que o gozo corporal está intimamente atravessado por uma ordem simbólica flexível, mesmo que não extensível.
As novas nomeações, ao contrário, tornam mais presentes as dimensões imaginária e real do corpo, colocando uma dificuldade para a intervenção analítica, a cuja modalidade clássica às vezes os novos sujeitos parecem impermeáveis.
Em um extremo encontramos o nomear para, um tipo de nomeação que nos anos setenta (em seu Seminário Les non dupes errent) Lacan assinalou como se sobrepondo cada vez mais à nomeação paterna. Trata-se de um tipo de nomeação para qual geralmente basta a mãe que designa um projeto para o filho, encerrando-o numa ordem de ferro. Lacan indicou que nesses casos o social toma a prevalência de nó. Seu correlato clínico são os corpos enrijecidos em uma nomeação que localiza o gozo sem flexibilidade e que dá lugar às tribos monossintomáticas próprias da época, nomeações anônimas que têm um efeito de ser, de enlaçamentos tais como: anorexias, bulimias, obesidades, adições, TOC, ataque de pânico, fobia social, etc.
Na prática com esses casos a pergunta que emerge é como introduzir um equívoco na rigidez da nomeação propiciando por sua vez uma trama simbólica mais ampla para que o sujeito possa realizar um novo enlaçamento prescindindo daquele da norma de ferro. Como conseguir com o corte e a retificação operar ao mesmo tempo introduzindo o equívoco e orientando uma nova trama.
No outro extremo encontramos nomeações lábeis, nomeações imaginárias que deslizam e se fazem presentes sob a modalidade de um gozo disperso, vazio, no centro da experiência analítica desses sujeitos. Sujeitos errantes para os quais não é possível encontrar nenhum efeito forte de ser, tampouco de desejo, sujeitos que declaram não saber o que querem nos distintos âmbitos de suas vidas. Trata-se de sujeitos que são, sucessiva ou simultaneamente, polissintomáticos, apresentando uma estrutura polimorfa, cujo correlato é um corpo que não cai em nenhum lugar.
Na prática com esses casos a pergunta que se pode colocar é como introduzir uma orientação que possibilite uma tessitura do simbólico que sustente o corpo e faça furo localizado, afastando-o da pura dispersão do real, como orientar o tratamento em uma função efetiva de nomeação.
Interessa-me a investigação dessas intervenções que, longe da ortodoxia clássica, mas muito próxima da precisão que possibilitam a lógica e a topologia, nos obrigam a cada vez reinventar o ato da palavra.

Fonte:
http://www.enapol.com/pt/template.php?file=Textos/Las-nuevas-nominaciones_Nieves-Soria-Dafunchio.html


III Simpósio de Psicanálise de Niterói
28 de setembro de 2013, sábado
Auditório do Edifício Central Park
Rua Otávio Carneiro, 143 - Icaraí - Niterói - RJ

Inscrições:simposiodepsicanalisedeniteroi@gmail.com

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Mostra Quentin Tarantino no CCBB

Existe coisa mais contemporânea que Tarantino?
Na semana que vem, vai chegar ao Rio a Mostra Quentin Tarantino, no CCBB. Serão exibidos todos os filmes do cineasta, incluindo suas participações como ator e produtor, totalizando 19 títulos. 
E outra boa notícia é que o Cinepasse sai por R$6 ou 3 (meia) e vale pra TODOS os filmes da mostra! 

De 17 a 29 de Julho

*O CCBB agora não abre às TERÇAS
R$ 6 e R$ 3 (meia) – Você só paga uma vez para ir a todas as sessões!*
*CINEPASSE : Válido por 30 dias, para acesso às mostras de cinema, por meio de senhas. As senhas deverão ser retiradas 1 hora antes decada sessão (eu nunca tive problemas pra retirar mais perto da sessão começar, desde que hajam lugares livres, claro).




Programação Completa

17 de julho – quarta-feira
14h30 – Amor à Queima-Roupa (1993), 120 min, DVD, 16 anos
17h – Cães de Aluguel (1992), 99 min, 35mm, 18 anos
19h - Tarantino’s Mind (2006), 15 min, DVD, 14 anos + Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994), 154 min, 35mm, 18 anos

18 de julho – quinta-feira
15h30 – Assassinos por Natureza (1994), 118 min, 35mm, 18 anos
18h – O Albergue (2005), 100 min, DVD, 18 anos
20h – O Albergue 2 (2007), 93 min, DVD, 18 anos

19 de julho – sexta-feira
14h – Dance me to the End of Love (1995), 6 min, DVD, 14 anos + Grande Hotel (1995), 98 min, 35mm, 16 anos
16h – Jackie Brown (1997), 154 min, 35mm, 16 anos
19h – Django Livre (2012), 145 min, 35mm, 16 anos

20 de julho – sábado
14h30 – Um Drink no Inferno (1995), 108 min, 35mm, 18 anos
17h – Um Drink no Inferno 2 : Texas Sangrento (1999), 96 min, DVD, 18 anos
19h – Sin City – A Cidade do Pecado (2005), 124 min, 35mm, 16 anos
21 de julho – domingo
14h30 – Kill Bill: Vol.1 (2003), 110 min, 35mm, 18 anos
16h30 – Kill Bill: Vol.2 (2004), 136 min, 35mm, 16 anos
19h – Bastardos Inglórios (2009), 153 min, 35mm, 18 anos

22 de julho – segunda-feira
15h – Jackie Brown (1997), 154 min, 35mm, 16 anos
18h30 – Grindhouse – À Prova de Morte + Planeta Terror , 191 min, Bluray, 18 anos

24 de julho – quarta-feira
14h30 – O Albergue (2005), 100 min, DVD, 18 anos
16h30 – Sin City – A Cidade do Pecado (2005), 124 min, 35mm, 16 anos
19h – Bastardos Inglórios (2009), 153 min, 35mm, 18 anos

25 de julho – quinta-feira
16h – O Albergue 2 (2007), 93 min, DVD, 18 anos
18h – Cães de Aluguel (1992), 99 min, 35mm, 18 anos
20h – Kill Bill: Vol.1 (2003), 110 min, 35mm, 18 anos

26 de julho – sexta-feira
15h – Um Drink no Inferno (1995), 108 min, 35mm, 18 anos
17h – Dance me to the End of Love (1995), 6 min, DVD, 14 anos + Amor à Queima-Roupa (1993), 120 min, DVD, 16 anos
19h30 – Kill Bill: Vol.2 (2004), 136 min, 35mm, 16 anos

27 de julho – sábado
15h – Um Drink no Inferno 2 : Texas Sangrento (1999), 96 min, DVD, 18 anos
17h – Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994), 154 min, 35mm, 18 anos
20h – À Prova de Morte (2007), 114 min, 35mm, 16 anos

28 de julho – domingo
15h30 - Grande Hotel (1995), 98 min, 35mm, 16 anos
17h30 – Assassinos por Natureza (1994), 118 min, 35mm, 18 anos
20h – Planeta Terror (2007), 92 min, DVD, 18 anos

29 de julho – segunda-feira
14h - Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994), 154 min, 35mm, 18 anos
17h – Django Livre (2012), 145 min, 35mm, 16 anos
20h – Tarantino’s Mind (2006), 15 min, DVD, 14 anos + Cães de Aluguel (1992), 99 min, 35mm, 18 anos